“Dinheiro não tem cheiro”

Por Pedro Ivo Rodrigues

A história conta que durante o governo do imperador romano Vespasiano (69 a 79 d.C), o tirano resolveu criar um imposto sobre o uso das cloacas (latrinas) e questionado pelo seu filho Tito sobre o motivo de tão nauseabundo tributo, o imperador teria lhe dado uma moeda para cheirar e lhe dito que “dinheiro não tem cheiro”, justificando a impopular medida sobre os dejetos dos cidadãos romanos. Ironicamente, Vespasiano mais tarde viria a sucumbir a uma inflamação intestinal, que lhe provocou violentas diarréias. Ao morrer, suas últimas palavras foram: “Vae, puto, deus fio!”

O fato bem que podia ilustrar os valores em voga na nossa sociedade, vendilhã, dócil com os mamangões que amealham riquezas por meios ilícitos, complacente com seus desvios de conduta e, acima de tudo, omissa quanto aos seus próprios direitos frente aos criminosos de fino trato.

Através dos meios de comunicação, tomamos conhecimento de toda sorte de abusos perpetrados por maus empresários, fazendeiros, políticos, etc. Grilagem de terras, enriquecimento ilícito (leia-se roubo de cargas, estelionato, corrupção), compra de votos, entre outras modalidades de “esperteza” bem “brasileiras”. Na maioria dos casos, nada acontece de adverso a tais indivíduos, pelo contrário, acabam se tornando homens respeitáveis na sociedade, promotores de festas na alta roda e colunáveis sociais. Ninguém vai preso, ninguém perde os bens adquiridos na ronha e nem sofre discriminações de nenhuma espécie. No máximo, respondem a processos que nunca são finalizados, protelando-os mediante intermináveis recursos impetrados por sagazes, e bem pagos, advogados. E assim, vastos patrimônios são formados, transmitidos sem quaisquer embaraços aos herdeiros. E ai de quem os criticar, pois quem censura as artimanhas desses gatunos e velhacos, dando nomes aos bois, logo é tachado de “invejoso”, “complexado”, “frustrado”, entre outros adjetivos correlatos.

Infelizmente, no Brasil, quiçá em boa parte do mundo, vale a pena ser pilantra grã-fino. O  mequetrefe rouba, mata, atropela os direitos alheios, prejudica coletividades inteiras e ainda é respeitado e tratado com distinção, tornado fidalgo.

A nossa Justiça não tem a mesma complacência com os autores de pequenos deslizes. Para esses, não tem conversa. É tranca na certa, quando não porrada ou chumbo grosso. São triviais casos de pessoas que passam cinco, seis anos na cadeia por furtar margarina, sabonete, pacote de biscoito. Para esses, não há recursos protelatórios. E quando morrem na prisão ou em “troca de tiros” com a polícia, se tornam meras estatísticas.

Todavia não adianta dizermos que autoridades se corrompem quando enxergamos esse comportamento por toda parte, quando testemunhamos o vil metal comprando consciências, abafando escândalos, encobrindo manchas de caráter, justificando absurdos. As pessoas de bem se calam, muitas vezes por achar que “o mundo é assim mesmo”,  o que perpetua as injustiças.

Dinheiro é bom e traz felicidade, mas deve provir de fonte limpa e lícita. Pensando diferente, estamos coroando com os louros da vitória os piores patifes.

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