Sancho de Tovar, nauta da aventura do Descobrimento

Por Pedro Ivo Rodrigues

Entre os homens prodigiosos envolvidos no evento do Descobrimento do Brasil, merece destaque a figura de Sancho de Tovar (1470-1545), nobre de origem castelhana que se lançou ao mar naquele remoto março de 1500, partindo da Praia do Restelo, em Lisboa, na célebre esquadra capitaneada por Pedro Álvares Cabral, com destino às Índias.

Sancho era filho de Martim Fernandes de Tovar, partidário do rei português D. Afonso V (1432-1481), que, vítima das intrigas palacianas, perdeu a cabeça após iníquo processo, em 1479, na Espanha. O garoto, zeloso da tradição familiar e imbuído de temeridade, apunhalou à morte o juiz que condenara seu pai ao cadafalso, volvidos dois anos, se homiziando em Portugal.

Apesar de ser senhor de Cevico e Huérgano, dedicou-se a marinhagem e acabou tendo os seus merecimentos reconhecidos pelo monarca luso D. Manuel I (1469-1521), que o nomeou subcomandante da frota que seria guiada por Cabral, com 160 mareantes ao seu comando, na nau batizada de El-Rei.

Após cerca de 42 dias enfrentando o que se conhecia como “mar tenebroso”, devido às superstições de que o oceano fervia em determinados trechos do Atlântico e também de que era lar de horríveis monstros, a esquadra fundeava na Baía Cabrália, naquele 22 de abril de 1500. Segundo testemunho do escrivão da armada, Pero Vaz de Caminha (1450-1500), Sancho de Tovar ficou deslumbrado com os índios tupiniquins, chegando a cantar e dançar com eles, levando ainda dois “homens da terra”, como os navegadores europeus denominavam os silvícolas, para a sua embarcação, oferecendo-lhes vinho, bebida que foi recusada pelos nativos.

Nas Índias, destino dos portugueses (algumas correntes de estudiosos admitem que o achamento do Brasil foi proposital e não um acidente como se professa), Tovar assumiu o controle da armada e protegeu Cabral dos ataques aborígenes.

Na viagem de regresso a Portugal, ordenou a escala em Sofala, entreposto africano, carregando o seu navio de especiarias, que acabou por encalhar e ser posteriormente incendiado a mando de Cabral.

Tendo os seus feitos em conta pela Coroa Portuguesa, foi dignificado com o posto de capitão de Sofala e foi um dos primeiros europeus a conhecer a civilização do Grande Zimbabwe, então conhecida como Reino de Monomotapa.

O navegador acabou os seus dias próspero e honrado. O seu filho, Pedro de Tovar e Silva (1540-1598), tomou parte na inconsequente expedição do Rei D. Sebastião contra os mouros, a batalha de Alcácer-Quibir, na qual desapareceu o jovem e fanático rei, em 1578.

Assim, juntamente com outros bravos navegadores, como Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Gomes, Bartolomeu Dias, Vasco de Ataíde, Mestre João, entre outros, Sancho de Tovar teve o seu nome fulgurado na história desse imenso e riquíssimo país chamado Brasil. Laos Deo.

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